Um mastodonte chamado OStatus (parte I)
Há uma semana atrás mais ou menos, começou a pipocar na minha timeline do Twitter alguns links sobre uma nova rede social chamada Mastodon, que a primeira vista parece um clone de twitter com uma interface de múltiplas colunas no estilo Tweet Deck.
A minha primeira reação, como a de qualquer outro usuário mais rodado de Twitter foi um cético:
Céus! Pra que?? Outro Ello, Gab, Plurk? Quem precisa de mais um site que vai morrer em poucos meses?
Passado algum tempo, os links e comentários sobre essa tal rede nova continuaram, o hype aumentou, matérias sairam aqui e ali, conhecidos anunciavam seus novos perfis e aquele FOMO (Fear Of Missing Out - Medo De Perder o Bonde) bateu.
Minha natureza early-adopter (não tão early assim, os protocolos, implementações e comunidades existem há anos) foi mais forte e corri para "reservar" um username bacana, minha URL vaidosa: @fabricio (assim como tenho no gmail, vimeo, flickr linkedin e tantos outros serviços comerciais centralizados, pura besteira…)
mastodonte baleiando... (btw, i am https://t.co/Bs1ItEttZ0 ) pic.twitter.com/QPnmKzXedD
— Fabricio Zuardi (@fczuardi) April 3, 2017
Com tanta mídia e novos usuários, o servidor dessa rede social não aguentou o tranco, "baleiou", "no cookies for you", aquele velho roteiro…
Porém, e ai vem a parte mais importante dessa história, a reação do criador e principal desenvolvedor desse serviço foi linda: ele ao invés de se comportar como qualquer CEO de uma startup do vale, e abraçar todo o crescimento para si, para dentro do servidor dele, gastando dinheiro de investidores-anjos para crescer e tratando a base de usuários como uma commodity a ser vendida para anunciantes no futuro, Eugen mostrou o caminho alternativo.
Fechou as inscrições na instância dele (mastodon.social), lembrou a todos que o software dele é livre e interoperável, e direcionou quem batia com a cara na porta para uma lista de outros servidores (instâncias) compatíveis.
@aral Might wanna point people to https://t.co/rqgrZ1MLmC or https://t.co/uk0V9zRaqp for choice of home instance - .social registrations still off
— Eugen (@Gargron) April 8, 2017
@blueminda @EinsteinsAttic Well, individual instances aren't meant to become twitter-scale large - load is distributed among entire network instead
— Eugen (@Gargron) April 8, 2017
Sim, a Mastodon não é apenas um clone do twitter melhorado, com interface bonita, que resgata o estilo clássico de replies visíveis, timelines cronológicas, sem propagandas e com uma licença livre. É bem mais que isso!
- chronological timeline ✅
— Fabricio Zuardi (@fczuardi) April 7, 2017
- no promoted tweets ✅
- no promoted trends ✅
- clear URLs instead of https://t.co/yEnex2H3sX bullshit ✅
go masto
É um serviço construído sobre uma série de padrões abertos (OStatus) que permite que diferentes servidores/nós se conversem e repliquem as mensagens e atividades entre eles de forma federada. Uma instalação do Mastodon pode, em tese, conversar com uma instalação do GNU Social, Friendica, pump.io ou mesmo sites pessoais (IndieWeb) que implementem a suíte completa ou parte desses padrões.
Quando eu me dei conta de que o username vaidoso que eu registrei era na verdade @fabricio@mastodon.social e que a parte depois da segunda arroba é o meu "provedor" assim como num email, valorizei muito mais o projeto, vi que não era um Snapchat esperando IPO, a próxima aquisição do Facebook ou mesmo o próximo twitter, mas sim algo decente de verdade, uma possível trilha para começar a reaver a Web que perdemos, aquilo que o twitter poderia ter sido se fosse um protocolo e não uma startup!
Estou tão apaixonado pelo conceito e pela comunidade de usuários interagindo por lá, que crochetei um probocídeo para comemorar e ter o que postar na rede :)