Por onde começar?

Recentemente completei 35 anos.

Estes períodos de aniversário sempre trazem alguma introspecção, me fazem lembrar que nosso tempo aqui neste ponto com vida inteligente do universo é limitado e me força a repensar algumas prioridades…

Meus últimos anos tem sido uma sucessão de frilas de programação, alguns bacanas e outros nem tanto, alguns que dão dinheiro, outros que dão menos dinheiro, uns que empatam e aqueles que só dão prejuízo.

No momento estou desempregado, sem frila e com tempo livre.

Eu deveria aproveitar este tempo como umas férias, descansar, ler, lançar algum projeto próprio ou algo do tipo… mas o timing não contribuiu. Logo após eu terminar a entrega do meu último trabalho veio uma notícia muito dura, a de que a Mozilla, um projeto que eu me importo e acompanho há anos sucumbiu aos interesses de Holywood e as pressões escrotas de uma indústria que vive para atrasar e empacar a possibilidade de um futuro com cultura e conhecimento livres.

A Netflix, conseguiu (com ajuda nossa, da W3C e da Mozilla Corporation) quebrar (ainda mais) a Web. Não me parece exagero pensar que estamos presenciando o início do fim do sonho da web read/write de Tim Berners Lee… e com o apoio do próprio!

O bom de estar imerso em um trabalho é que não te sobra tempo para filosofar, ou como diz o ditado: "cabeça vazia, morada do pemba". Se eu estivesse no modo louco-programando-contra-o-tempo para conseguir entregar algo, esta notícia poderia ter passado batida ou me afetado bem menos, afinal, a roda gira, a vida segue, concessões devem ser feitas, e não existe o mundo ideal.

Mas esta traição e jogada de toalha da Mozilla aconteceu justamente durante uma janela de tempo em que eu podia e estava prestando atenção… pior, aconteceu justamente porque pessoas como eu e outros que compartilham dos meus objetivos estávamos preocupados em ganhar dinheiro e manter um estilo de vida cômodo, nós deixamos para trás aquele tipo de trabalho que não dá dinheiro e nem traz resultados a curto prazo, nós baixamos a guarda. Esta é a pior parte de presenciar em camera lenta este desastre anunciado, é saber que eu contribuí para que as coisas chegassem neste nivel, a culpa é também minha. Eu esperei dos outros algo que eu deveria estar fazendo eu mesmo.

Me sinto envergonhado, hipócrita e inútil. Mas quero mudar, não quero mudar o mundo ou como as coisas funcionam, não. Só quero me levantar do chão e brigar (ainda que sozinho), fazer pelo menos a minha parte.


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Fabricio Campos Zuardi

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