The Real Talk

Esta semana uma nova rede social chamada The Real Talk foi lançada com a proposta de ser um canal de discussões livre de "fakes" no Brasil.

Sobre fakes

Fakes são contas anônimas criadas por gente que precisa ou quer esconder sua identidade em uma discussão de internet.

Existem muitos motivos legítimos para alguém publicar conteúdo debaixo de um pseudônimo na rede, como no caso de whistleblowers, pessoas vivendo sob regimes totalitários, pessoas que valorizam o direito à privacidade, tímidos, pessoas que publicam idéias com potencial de destronar ou irritar poderosos… casos onde estar atrás de uma máscara é uma proteção do fraco contra o forte em geral.

E existem também motivos covardes para a utilização de contas anônimas, como no caso de "militantes de ambientes virtuais" (MAVs), muitas vezes pagos com dinheiro público, que se escondem atrás de pseudônimos, bots e identidades clonadas com o objetivo de difamar, plantar desinformação e propaganda oficial, praticar discurso de ódio, spam ou simplesmente agir com comportamento troll / infantil "floodando" um tópico de discussão para soterrar qualquer traço de conversa produtiva sob uma enxurrada de ruído.

Caixas de comentários de sites de notícias são um belo exemplo das porcarias que esta liberdade muitas vezes traz consigo. Não é de se espantar que muitos donos de blog escolham desabilitar por completo comentários em posts ou adotar uma caixa de comentários fornecida pelo Facebook, que exige identificação.

Vale lembrar que nossa constituição federal proibe o anonimato.

Liberdade de expressão

Eu sou do time dos que reconhecem o valor de espaços mais receptivos/abertos para contribuições anônimas como o /b/, o snapchat, o wikileaks, o projeto Tor ou a própria Wikipédia. Isto está completamente fora de questão: a Internet deve permanecer livre e abrigar todo o tipo de expressão, ponto.

Fazer parte deste time não impede que eu reconheça também a utilidade de espaços online onde a identidade real e reputação estão em jogo, estes tendem a favorecer debates mais civilizados.

São abordagens distintas, são coisas não excludentes que podem coexistir.

O que há de errado com o "Facebook"?

Num primeiro momento, pode parecer que o site Facebook é um caso deste segundo tipo de fórum online, já que existe o requisito de identificar-se com um nome real… e até certo ponto é mesmo.

Mas não pode-se dizer que o facebook seja um espaço livre e aberto a qualquer tipo de comunicação, ou que seja livre de censura.

Lembretes de que a rede é privada, que serve aos interesses de seus anunciantes e que está sujeita a bloquear postagens por conta de "reports" de gente que simplesmente não gostou do que leu vira e mexe aparecem… desde denúncias de bloqueio aos posts sobre greve de professores como este:

https://www.facebook.com/antropoiese/posts/10203047472902783?fref=nf&pnref=story

Até denúncias de censura de reportagens sobre a corrupção do governo na Petrobrás como este:

http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2015/04/30/fomos-censurados-no-facebook/

Passando por ministro reclamando das normas de conduta do site que impedem que uma foto de uma indígena com peito nu permaneça online por muito tempo:

http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/OiKX3xlR9iTn/content/artigo-de-juca-ferreira-sobre-cultura-digital/10883

(Para uma coleção de outros exemplos, veja o rascunho de um post sobre este assunto que eu estava recolhendo material no fórum.)

Emancipação

A The Real Talk chega com a proposta de ser um espaço com as características de identidade verdadeira nos moldes de Linkedin ou Facebook, mas sem as incertezas e frustrações de viver sob o teto do Zuckerberg.

Até semana passada, os próprios criadores da TRT e seus seguidores utilizavam o Facebook para conversar e se organizar. Decidiram se emancipar por conta das arbitrariedades e abusos permitidos/promovidos pela empresa que disponibiliza este serviço. (e o timing não poderia ser mais simbólico: as vésperas do protesto de 16 de Agosto pedindo o impedimento da presidente)

Ficaram de saco cheio e decidiram se organizar por conta própria basicamente.

O artigo Garras Invisíveis de Olavo de Carvalho que toca neste assunto é um grande manifesto e mostra bem o contexto e as motivações.

Futuro federado

Se a The Real Talk vai se provar um espaço livre para discussões com profundidade, se vai ser uma rede social de nicho para olavetes ou se vai orkutizar geral, só o tempo vai dizer. Me anima ver que escolheram o projeto livre diaspora* para materializar o canal e suprir as necessidades do grupo.

O projeto diaspora* é uma solução relativamente boa, e muito interessante por ser de código-fonte aberto (software livre com licença AGPL) e principalmente por trazer o conceito de redes sociais federadas, a diaspora é uma rede de redes sociais.

Membros com conta em um servidor (um "pod") podem conectar-se e acompanhar postagens de membros de outros pods, um reaça de um pod conservador pode acompanhar as recomendacoes de música de um abortista com conta num pod petralha e vice-versa, ou um anarquista paranóico pode ser o único usuário de um pod em servidor próprio e escolher interagir com gente de qualquer outro nó desta federação. Cada nó com suas regras de convívio próprias. É um desenho menos centralizado e mais livre, um avanço se comparado ao que temos hoje :)

Para quem quiser me achar por lá, este é meu perfil.

OBS: Tenho convites! Quem quiser experimentar este mundo novo deixe um comentário que eu convido. update: se foram, parece que a moça dos comentarios abaixo gastou tudo, ou é bug. Se eu arranjar mais aviso. :(

(foto)


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Fabricio Campos Zuardi

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